Checoslováquia, um dos países pertencentes ao bloco leste, e um dos que foi directamente afectado pelo grande confronto vivido durante os anos (1947/1989) entre duas grandes potencias mundiais: os EUA e a URSS, que dividiu o mundo em dois blocos. Apesar de ter sido impedido de terminar, o movimento reformista Checo, iniciado por Alexander Dubcek e com o apoio de muitos dos jovens e intelectuais comunistas, consistiu numa grande ameaça para a URSS, que temeu que o alastramento das reformas se estendesse pelos restantes cidades satélites.

   “O ano de 1968 será lembrado como o ano da rebeldia, dos sonhos esmagados.”

    Foi a partir desta frase que decidimos atribuir o titulo de: “a revolução estrangulada” a este subtema do trabalho. À hora de falarmos acerca do que foi a Primavera de Praga. O movimento checoslovaco representou o desabrochar da democracia atrás da Cortina de Ferro, que foi impedida de florir tal como era esperado assistindo-se ao seu murchar no dia 20 de Agosto e literalmente ao seu esmagamento com a entrada dos tanques do Pacto de Varsóvia.

    Este foi de facto o momento em que se assistiu ao “estrangulamento” desta reforma, que desde 1964 (ano em que 3000 estudantes se manifestaram contra a ditadura policial) vinha a ganhar força. Mas que no Outono de 1967 ganhou outra dimensão levando a que o regime fosse abertamente criticado através das manifestações estudantis e dos ataques de associações de escritores à politica do PC checoslovaco que promoveram o debate interno no partido.

    No inicio de Janeiro de 1968, o Comité Central do Partido Comunista decide separar o cargo de primeiro secretário do de chefe de estado, e assim no dia 5 de Janeiro nas eleições livres de 1968 Alexander Dubcek sucede a Antonin Novotny como Secretário-Geral do Partido Comunista da Checoslováquia e propôs um socialismo de «rosto humano» e iniciou uma «abertura» e «liberalização» do regime.

    O reformista apresentou uma alternativa que ia contra as medidas autoritárias alimentadas pelo regime comunista da URSS, tendo como principal objectivo humanizar o comunismo e rever a constituição para garantir os direitos dos cidadãos. Nesta democratização, Dubcek pretendia que houvesse a livre organização partidária e que a imprensa agisse livremente. Deu, assim, oportunidade de assistir-se á supressão da censura, e criou a possibilidade de um país do Pacto de Varsóvia ter acesso à televisão, jornais, cartazes, etc e através destes meios foram plantadas as sementes dos ideais revolucionários que já floriam no panorama internacional, e os mais atentos.

    Tiveram a oportunidade de assistir aos assassinatos de Martin Luther King e Robert Kennedy, aos estudantes em Paris comandados por Daniel Cohn-Bendit, às notícias transmitidas pelos jornalistas, que denunciavam a ausência de humanismo quanto á maneira como foram tratados os vietnamitas durante a guerra do Vietname, entre outros acontecimentos que marcaram o ano de 1968. O visionamento/conhecimento de todas estas experiências continuava a trazer agitação um pouco por toda a população.

    De todos os lados explodiram manifestações com o objectivo de poderem acelerar o processo de democratização. Em Junho de 1968, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Gazeta Literária (Liternární Listy), redigido por Ludvik Vaculik, com centenas de assinaturas de personalidades de todos sectores sociais, pedindo a Dubcek que acelerasse o processo. O reformista acreditava que seria possível transitar pacificamente de um regime comunista ortodoxo para uma sociedade democratizada e ocidentalizada.

    Apesar de todas as vitórias que foram obtidas através deste sonho e pela felicidade que representou para os checos, não nos podemos esquecer que este revolucionário movimento continuava a representar, aos olhos do governo soviético, uma ameaça ao bloco comunista com uma possível criação de uma nação capitalista incrustada no Leste Europeu daí a justificada entrada dos tanques das forças do Pacto de Varsóvia, a 20 de Agosto de 1968, que tomaram a capital Praga e, ao invés de encontrarem tropas armadas e resistentes, depararam-se com uma grande massa de civis inconformados com a acção autoritária da União Soviética.

    Os filmes que elegemos para a ilustração deste acontecimento foram A Insustentável Leveza Do Ser onde podemos assistir a algumas imagens reais do que se passou em Praga, em que constatamos a presença das camadas mais jovens que enfrentavam corajosamente o grande porte dos tanques.

    

     Muitos deitavam-se à frente dos tanques, conversando com os soldados pedindo sua retirada. Os mais exaltados tentaram entrar em confronto lançando pedras e cocktails Molotov (nome que começou a ser utilizado a partir deste processo) contra os tanques tal como podemos comprovar através da imagem colocada no lado direito.

    A Primavera de Praga tinha chegado ao seu fim. No entanto, a urgência por mudanças não foi simplesmente anulada. Nos anos de 1970 e 1980, diversos movimentos civis lutavam pela instalação de mudanças. O embate com as tropas soviéticas deixou um saldo de 72 mortos e 702 feridos. Algumas das mortes que se registaram neste período foram “voluntárias”, um dos exemplos que podemos citar é o do jovem de apenas 20 anos Jan Palach, que morre após atear fogo a si próprio na avenida Wenceslas, na cidade de Praga, no dia 16 de Janeiro de 1969.

    Superada a invasão, a situação é normalizada e a Primavera vai desmoronando, e cada vez mais sem hipóteses de voltar a florir, surgem alguns focos que pretendiam a reabilitação da vontade de libertação quanto à pressão soviética exercida em relação à Checoslováquia. Alguns jovens fazem representar-se como a expressão máxima deste desejo através dos seus suicídios, tal como Jan Palach; Jan Zajíc e Evzen Plocek. 

    O funeral de Jan Palach transformou-se num grande protesto contra a ocupação. Outros seguidores desta atitude contestaria, seguiram o seu exemplo e mais tarde a 25 de Fevereiro de 1969 o estudante, Jan Zajíc, adoptou o mesmo método sacrificando a própria vida pela defesa da sua causa, tal como Evžen Plocek em Abril do mesmo ano, na cidade de Jihlava.

    Apesar de tudo o que foi feito no sentido de impulsionar a continuação do movimento, este não tinha de maneira nenhuma de ser reabilitado. Somente em 1987, com a abertura política dos soviéticos, foi possível consolidar as demandas vinte anos antes proferidas.

    Sitiados pelas forças soviéticas, o chefe partidário Alexander Dubcek e o presidente Ludvik Svoboda foram enviados para Moscovo. Impossibilitados pelo tom impassível do então presidente Leonid Brejnev (1964 – 1982), os líderes checoslovacos foram destituídos de seus cargos e expulsos do Partido Comunista. No ano seguinte, Gustav Husák assumiu o cargo de primeiro-ministro do Partido Comunista checo.

    As imagens captadas durante o processo converteram o seu papel, de fotografias inéditas que significariam o melhor descritivo que se pode ter de um movimento como este, num instrumento de denúncia, que levou à perseguição e consequentemente ao interrogatório dos que ousadamente foram para as ruas. E como já havia sido citado anteriormente, no filme A insustentável leveza do ser, em que podemos acompanhar de dentro o processo, está bem descrito este tipo de episódio.